Secretariado Diocesano do Ensino da Igreja nas Escolas - Porto
Hoje 233
Ontem 233
Esta semana 2044
Este mês 2044
Total 1674877
Neste momento: 16 convidados e nenhum utilizador em linha
Que a quarentena não seja só um violento recurso forçado, do qual vemos apenas os aspetos negativos.
Este pode ser o momento para irmos ao encontro daquilo que perdemos; daquilo que deixamos sistematicamente por dizer;
daquele amor para o qual nunca encontramos nem voz nem vez; daquela gratuidade reprimida que podemos agora saborear e exercer
PODEMOS REAPRENDER TANTAS COISAS
Parece paradoxal, mas o tempo presente representa também uma oportunidade para nos reencontrarmos.
Confinados a um isolamento compreendemos talvez melhor o que significa ser — e ser de forma radical — uma comunidade.
A nossa vida não depende apenas de nós e das nossas escolhas: todos estamos nas mãos uns dos outros,
todos experimentamos como é vital esta interdependência, esta trama feita de reconhecimento e de dom,
de respeito e solidariedade, de autonomia e relação.
Todos esperam uns dos outros e estimulam-se positivamente a que façam a sua parte.
Todos contam. Os cuidados individuais, que somos chamados a exercitar,
não são a expressão de uma fobia ou do interesse próprio apenas, como se destinados
a nos enclausurar na torre de marfim do nosso ego.
São, sim, a forma de colaborar para uma construção maior,
de colocar os outros no centro, de sacrificar-se por eles,
de privilegiar o bem comum.
Esta é a hora em que podemos, de facto, reaprender tantas coisas.
Podemos reaprender a estar nas nossas casas,
mas também a sentir que depende de nós o nosso prédio, a nossa rua,
o nosso bairro, a nossa cidade, o nosso país, dando substância efetiva a palavras,
tantas vezes destituídas dela, como são as palavras proximidade, vizinhança, humanidade, povo e cidadania.
Podemos reaprender a utilizar as redes sociais não só como forma de divertimento e de evasão,
mas como canais de presença, de solicitude e de escuta.
Sem nos tocarmos, podemos reaprender o valor da saudação,
o estímulo de um cumprimento, a incrível força que recebemos de um sorriso ou de um olhar.
Sem que os nossos braços se estendam na direção uns dos outros podemo-nos abraçar afetuosamente,
como já o fazíamos ou de um modo mais intenso ainda,
transmitindo nesses abraços reinventados o encorajamento, a hospitalidade,
a certeza de que ninguém será deixado só.
Sem nos conhecermos podemos finalmente reaprender a não votar ninguém à indiferença
ou a não tratar os nossos semelhantes como desconhecidos.
Nenhum ser humano nos é desconhecido, pois sabemos por nós próprios o que é um ser humano:
o que é esse pulsar de medo e de desejo, essa mistura de
escassez e de prodigalidade,
esse mapa que cruza o pó da terra com o pó das estrelas.
A DISTÂNCIA E A PROXIMIDADE
Conhecemos a semântica da proximidade e da distância, e, para dizer a verdade, precisamos de ambas.
São elementos de comprovada importância na arquitetura do que somos: sem uma ou sem outra nós não seríamos.
Sem a proximidade primordial nem seríamos gerados. Mas também sem a separação e a distinção progressivas a nossa existência não teria lugar.
Na linguagem parabólica do livro do Génesis, Deus cria o homem amassando-o da argila da terra e oferecendo-lhe o seu próprio sopro,
mas depois deixa o casal humano a sós no jardim para que a aventura da liberdade possa ter início.
Do mesmo modo, cada um de nós, foi chamado a construir o seu mundo interno no balanço destas duas palavras: fusão e distinção.
E através delas descobrimos, a tatear, o significado do amor, da confiança, do cuidado, da criação e do desejo.
DE QUARENTENA A TEMPO GRATUITO
Passamos uma vida inteira a repetir que “time is money” e nem nos apercebemos do custo existencial dessa proposição.
Este pode ser o momento para irmos ao encontro daquilo que perdemos; daquilo que deixamos sistematicamente por dizer;
daquele amor para o qual nunca encontramos nem voz nem vez; daquela gratuidade reprimida que podemos agora saborear e exercer.
Temos de olhar para a quarentena não apenas como um adverso congelamento da vida que nos deixa manietados,
elencando de modo maníaco o que estamos a perder.
Sairemos mais amadurecidos se a aproveitarmos como um dom,
como um espaço plástico e aberto, como um tempo para ser.
AS HISTÓRIAS DE AMOR QUE ESTÃO A SER ESCRITAS
No meio da emergência que vivemos, não podemos esquecer o testemunho humano altíssimo que está a ser dado por todos os cuidadores.
Esses são heróis desta história coletiva. E são milhões que, de forma anónima, e com um extraordinário sentido de abnegação,
mantêm abertas fábricas e serviços, continuam a produção alimentar e de bens indispensáveis, vigilam pela segurança e, claro,
nos hospitais combatem por todos nós na primeiríssima linha.
Enumero três histórias minúsculas no universo de bem e dedicação que, nestes dias tão difíceis, se está também a construir.
No sábado fui à pequena padaria do meu bairro. É o proprietário que atende ao balcão, um senhor dos seus setenta e muitos,
um olhar cheio de cordialidade, um humor sempre a assomar. Vi-o, como o nunca vi, desolado, meditabundo, exausto.
Perguntei-lhe se a padaria continuaria aberta. E ele confessou que por ele já a teria fechado. Mas depois começa a pensar nos clientes,
nas pessoas que serve há tantos anos, muitas delas idosas como ele: como farão, se não há outra padaria nas redondezas! Outra história lia no jornal.
Uma senhora ligou para o posto da polícia do seu quarteirão, que naturalmente continua aberto, apenas para fazer esta pergunta:
“E vocês como estão?” A terceira é contada, sem palavras, por uma fotografia que mostra os bastidores de um hospital.
Uma enfermeira adormecida com a cabeça em cima de um teclado do computador. Tem os óculos e a máscara colocados no rosto.
Os braços caídos ao longo do corpo, sem nenhum apoio. É uma imagem comovedora, no seu desamparo extremo, porque se percebe tudo.
Há já quem diga que a geração que vive o turbilhão desta pandemia olhará inevitavelmente para a vida de outra maneira.
Esperemos que sim.
Mas que na equação, que porventura espoletará uma mudança de mentalidade, entre não só o poder desconhecido do medo e da urgência,
que nos faz relativizar tanta coisa.
Que saibamos considerar devidamente todas as histórias de amor que estão a ser escritas,
a começar por esta inteira multidão de profissionais e de voluntários que aproximam da nossa experiência hodierna a inesquecível parábola do bom samaritano.
AS MÃOS SUSTÊM A ALMA
Foi Pascal que escreveu que “as mãos sustêm a alma”.
Hoje precisamos de mãos — mãos religiosas e laicas — que sustenham a alma do mundo.
E que mostrem que a redescoberta do poder da esperança é primeira oração global do século XXI.
José TOLENTINO MENDONÇA, Redescobrir o Poder da Esperança, in Expresso.
A Revista do Expresso, 2473, 21. 03. 3020, 23-29.
ENCONTROS EMRC 2020
Caros professores:
Serve a presente comunicação, para dar conhecimento das decisões que nos vimos obrigados a tomar, em função, do estado atual de prevenção da saúde pública e, desde já, agradecemos a vossa compreensão para este assunto. Estamos certos de que cada professor(a) saberá encontrar a melhor forma para informar e cuidar dos seus alunos relativamente a estas questões.
1. Atendendo às informações e orientações emanadas pela Direção-Geral de Saúde (DGS) e ao estado de gradual agravamento da situação epidémica provocada pela COVID-19 (Coronavírus) em vários pontos do país, decidiu o Secretariado Nacional de Educação Cristã (SNEC) pelo cancelamento do Encontro Nacional de EMRC do Secundário (ENES), neste ano 2020.
2. Em relação ao XVIII Encontro de EMRC Porto, agendado para 15 de maio, e Encontro Nacional de alunos do 1º ciclo, datado para o dia 22 de maio, mantêm-se, por agora e para ambos, a possibilidade da sua realização. Oportunamente, enviaremos mais informações.
Continuaremos a acompanhar atentamente as informações/orientações disponibilizadas pela DGS.
Reiteramos o apelo à calma e serenidade, nos comportamentos a adotar.
Precisamos de uma sociedade atenta, mas não alarmada.
Em relação às nossas atividades, mantemos a vontade e o empenho.
Dez razões civis contra a eutanásia:
Nenhuma vida vale mais que outra!
1. A vida tem, desde o seu princípio ao seu fim natural, a mesma dignidade absoluta que deve ser salvaguardada e protegida. Os grandes textos civis e sagrados, médicos e filosóficos que são a matriz das nossas sociedades, e formam a nossa consciência moral, recordam-no incessantemente. Ir contra o primado da vida é atentar contra a humanidade de todos os seres humanos.
2. Não é o primado da vida que tem de estar sujeito às circunstâncias (económicas, políticas, culturais, etc.) de cada tempo, mas sim as circunstâncias que devem estar ao serviço incondicional do primado da vida. A verdadeira missão que compete à política é o suporte infatigável à vida.
3. Nenhuma vida vale mais do que outra. Nenhuma vida vale menos. A vida dos fracos vale tanto como a dos fortes. A vida dos pobres vale o mesmo que a dos poderosos. A vida dos doentes tem um valor idêntico à vida dos saudáveis. Passar a ideia de que há vidas que, em determinadas situações, podem valer menos do que outras é um princípio que conflitua com os valores universais que nos regem.
4. O sofrimento humano é uma realidade do percurso pessoal, que pode atingir formas devastadoras, é verdade. Mas o próprio respeito devido ao sofrimento dos outros e ao nosso deve fazer-nos considerar duas coisas: 1) que temos de recorrer aos instrumentos médicos e paliativos ao nosso alcance para minorar a dor; 2) que temos de reconhecer que o sofrimento é vivido de modo diferente quando é acompanhado com amor e agrava-se quando é abandonado à solidão. É fundamental dizer, por palavras e gestos, que “nenhum homem é uma ilha”.
5. Recordo o que me contou, emocionada, uma voluntária que trabalha há anos numa unidade oncológica: “O que me faz mais impressão é o número de pessoas que morrem completamente sós.” Devia-nos impressionar a todos a desproteção familiar e social que tantos dos nossos contemporâneos experimentam precisamente na hora em que se deveriam sentir sustentados pela presença e pelo amor dos seus. A solução não é avançar para medidas extremas como a eutanásia, mas inspirar modelos de maior coesão, favorecendo práticas solidárias em vez de deixar correr a indiferença e o descarte.
6. Por trás da vontade de morrer subjaz sempre uma vontade ainda maior de viver, que não podemos não ouvir. Claro que a vida dá trabalho. Que o serviço à vida frágil, à vida na sua nudez implica muitos sacrifícios e uma dedicação que parece maior do que as nossas forças. Mas coisa nenhuma é mais elevada do que essa. Talvez em vez dos heróis que sonambulamente festejamos, as nossas sociedades deveriam colocar os olhos no verdadeiro heroísmo: o heroísmo daqueles que enfrentam o caminho do sofrimento; o heroísmo daqueles que se dedicam ao cuidado dos outros como testemunhas de um amor incondicional.
7. As nossas sociedades têm de se perguntar se já fizeram tudo o que podiam fazer para promover e amparar a vida, sobretudo a daqueles que são mais frágeis.
8. Os paradigmas de felicidade da sociedade de consumo são paraísos artificiais talhados à medida do indivíduo, que passa a preocupar-se apenas por si mesmo e que se apresenta como o seu começo e o seu fim. Em nome dessa felicidade assiste-se facilmente ao triunfo do egoísmo. Porém, a pergunta ancestral “onde está o teu irmão?” será sempre um limiar inescusável na construção da felicidade autêntica.
9. Àqueles que, movidos pelos melhores sentimentos, veem na eutanásia um passo em frente da nossa civilização recomendo a leitura do conto de James Salter intitulado “A Última Noite” (Porto Editora, 2016). Tem razão quem escreveu que a literatura é uma lente para olhar o humano.
10. Diga-se o que se disser, a vida é a coisa mais bela.
Card. TOLENTINO MENDONÇA, in Expresso – Revista, n.º 2467 - 8.02.2020, p. 98.
"Com a recente publicação de diversos diplomas e documentos de referência curricular – redefinição do Currículo do Ensino Básico e Secundário, Perfil dos Alunos à Saída da Escolaridade Obrigatória, Educação Inclusiva e Projetos de Autonomia e Flexibilidade Curricular – urge a necessidade dos docentes repensarem a sua prática letiva e concretizarem a conceção e produção de materiais didáticos que corporizem os novos paradigmas curriculares, em articulação com as Aprendizagens Essenciais de EMRC, enquanto referência curricular para a lecionação desta Disciplina."
Assim se inicia a descrição do programa de formação, a ministrar na UCP
sobre os Elementos para a conceção de materiais didáticos de EMRC à luz das novas linguagens curriculares.
É uma formação não conferente de grau, mas importante para uma nova abordagem à linguagem curricular.
E porque a formação nunca é demais... deixamos o desafio a todos os professores de EMRC!