Secretariado Diocesano do Ensino da Igreja nas Escolas - Porto
Hoje 176
Ontem 301
Esta semana 733
Este mês 6004
Total 1659187
Neste momento: 6 convidados e nenhum utilizador em linha
O Papa declarou hoje que se associa ao apelo recente lançado pelo secretário-geral da ONU, António Guterres,
para um «cessar-fogo global e imediato em todos os cantos do mundo»,
tendo em conta a «atual emergência do Covid-19, que não conhece fronteiras».
«Associo-me a quantos acolheram este apelo, convido todos a dar-lhe seguimento,
parando qualquer forma de hostilidade bélica, favorecendo a criação de corredores para a ajuda humanitária»,
nomeadamente para as pessoas que se encontram em situação de «maior vulnerabilidade», afirmou.
Nas palavras que proferiu Francisco expressou o desejo de que «o empenho conjunto contra a pandemia»
possa «levar todos a reconhecer» a «necessidade de reforçar os laços fraternos, como membros de uma única família»,
suscitando nos responsáveis pelas nações «um empenho renovado na superação das rivalidades»,
através do «diálogo» e da «construtiva busca da paz», porque, frisou, «os conflitos não se resolvem através da guerra».
«O meu pensamento dirige-se de modo especial para todas as pessoas que sofrem a vulnerabilidade de serem obrigadas a viver em grupo»,
por exemplo, em casas de repouso e casernas, apontou.
Citando um relatório sobre direitos humanos, Francisco mencionou as «prisões sobrelotadas»,
que podem tornar-se «numa tragédia» para a disseminação da pandemia.
«Peço às autoridades que sejam sensíveis a este grave problema,
e tomem as medidas necessárias para evitar tragédias futuras», afirmou.
«A hipocrisia com que tantas vezes se vive a fé, é morte; a crítica destrutiva para com os outros, é morte;
a ofensa, a calúnia, são morte; a marginalização do pobre, é morte».
Papa Francisco e António Guterres. Vaticano, 6.12.2013. Foto: L'Osservatore Romano
Muitas vezes os nossos sonhos nascem e amadurecem sem que nós o decidamos, não são um ato de vontade, somos como que chamados por eles.
Os sonhos são depostos em nós como uma semente e polarizam tudo: por vezes torna-se um sim de toda a pessoa, outras vezes pensamos
que viver um sonho é demasiado pouco, e por isso deixamo-lo morrer e fazemos nascer outro.
...
Hoje vivemos a instabilidade dos sonhos a longo prazo, curamos um sonho com outro sonho, uma paixão com outra paixão,
um desejo com outro, sem permitir-lhes que se tornem realidade.
Os sonhos adoecem e morrem se não se tornam vida, se não permanecem dentro da fidelidade a nós mesmos,
se não nos fazemos hóspedes no seu mistério, se não sabemos esperar,
se os consideramos uma conquista em vez de um encontro.
...
A espera não é passividade, é fermento.
Não é fácil compreender se é desejo que gera em nós inquietude, ou é a inquietude que gera o desejo.
Somos doentes de infinito, andamos ansiosos não pelo pouco, mas pelas demasiadas ofertas,
os demasiados sonhos e desejos a que gostaríamos de ter acesso, mas a que não podemos chegar.
Deixámos adormecer a inteligência, essa capacidade de ler dentro de nós e dentro dos acontecimentos,
de transformar as paixões e os sonhos em ações.
Há uma desproporção entre aquilo que se pode e aquilo que se deseja.
...
Ainda que permaneçam vivos os sonhos, as emoções, a ternura,
estamos cansados de viver uma realidade esmagada que não abraça o sonho.
Os sonhos e as paixões requerem progressividade e paciência, criatividade e coragem para se tornarem vida.
São a coragem e a criatividade que impelem o sonho a tornar-se realidade.
O criativo não é o fantasioso, mas é aquele que é capaz de se sintonizar com a realidade,
e sabe criar harmonia entre o mundo em que vive e o mundo que vive nele.
Os sonhos precisam de paciência e de um passo de cada vez sem ter de recomeçar sempre do início;
precisam de tempo para fazer amadurecer em nós aquilo que ainda não foi resolvido no coração.
Para transformar os sonhos em realidade é necessário um tempo longo,
capaz de penetrar até ao coração da vida, onde os frutos libertam o seu perfume.
O P. Giuseppe Berardelli, de 72 anos, é descrito pelos seus amigos, pelo “seu” presidente do município, como um homem de coração.
Apesar de ter testado positivo para o coronavírus, e com evidentes dificuldades respiratórias, há alguns dias, decidiu sacrificar a sua vida por
uma outra pessoa com o mesmo problema.
Renunciou ao ventilador, que a sua comunidade paroquial tinha adquirido para ele, para que pudesse ser destinado a alguém mais jovem.
Alguns chamam-no o novo S. Maximiliano Kolbe, outros consideram-no herói, para outros é um santo.
Tudo apreços justos, mas o P. Giuseppe era apenas um padre, exclusivamente um padre.
Um padre alegre por o ser, que com a sua motocicleta e o seu ardor inflamaram, durante anos, a sua comunidade.
As suas obras dirigiam-se à comunidade e aos seus jovens, e a sua “última” obra não podia deixar de ser também assim.
Não chegámos a conhecer o P. Giuseppe, a não ser no fim da sua vida; conhecemo-lo pelo seu gesto de amor, e de imediato entrou-nos no coração...
Obrigado pelo teu testemunho.
P. Enzo Gabrieli
In SIR
Trad.: Rui Jorge Martins
Imagem: P. Giuseppe Berardelli | D.R.
Publicado em 24.03.2020
Na Bíblia diz-se que Deus castiga o pecado com flagelos, mas o Cristianismo superou «totalmente» essa visão
O coronavírus está a mostrar «novos modelos de amor», mas é necessário enfrentá-lo não com medo, que conduz ao terror, mas com temor, que inspira esperança,
como também responsabilidade pessoal, considera o presidente do Conselho Pontifício da Cultura, cardeal Gianfranco Ravasi, que comenta a posição daqueles para
quem o Covid-19 é um castigo enviado por Deus para punir a humanidade pecadora, e sublinha que a crise está a fazer sobressair o essencial em detrimento do superficial.
----
Tem uma atitude construtiva. Não tem sequer medo de ser contagiado?
Francamente, não, mas a reflexão que gostaria de fazer é sobre o medo:
um fator central na história da humanidade, baseado na distinção entre duas categorias bem separadas:
de um lado está o medo, que é uma emoção primária negativa, produz terror e conduz à irracionalidade quando cresce.
Do outro lado, por seu lado, está o temos, que é preocupação, mas também respeito.
A distinção aparece até na Bíblia, e é uma das declarações que se escreviam nos edifícios sagrados:
«O princípio da sabedoria é o temor do Senhor».
Temor significa, portanto, estar consciente da complexidade da realidade,
que nós não somos árbitros absolutos do ser e do existir.
O temor é uma virtude, e em certa medida uma necessidade
que está a conquistar espaço nestes dias, e que deveria ser de todos.
---
No entanto, o que prevalece hoje é o medo…
Montaigne dizia: o medo é a coisa de que tenho mais medo.
Entendia-o como um excesso de histeria, porque quando predomina sobre tudo adquire uma coloração negativa.
Sófocles acrescentava: para quem tem medo, tudo são rumores.
O temor, ao contrário, é diferente, porque supõe que haja a consciência da dificuldade e o esforço para a superar.
O temor, no fundo, é uma virtude, portanto um empenho.
O temor, entre outros aspetos, não pode existir sem esperança, e a esperança sem temor.
Só com o medo, está-se sozinho à mercê de um resvalar para o terror.
---
Transformar o medo do contágio em apenas temor do contágio não é propriamente uma passagem mental simples…
É preciso levar tudo para uma atitude positiva.
Por exemplo, começar a compreender o limite da criatura humana.
A nossa fragilidade. Num período de triunfo da autonomia, da autossuficiência, da tecnologia, estamos expostos a um limite.
Somos frágeis, e a descoberta deste fator não está dada como adquirida.
O desafio dos jovens que desafiam o contágio. Não têm ainda a perceção sapiencial de que não somos eternos.
---
Depois há o tema da ciência…
E é preciso exaltar-lhe sempre a grandeza por aquilo que consegue efetivamente fazer,
mas é preciso compreender que não pode tudo.
A vacina contra o coronavírus, por exemplo, ainda não foi encontrada.
A ciência tem percursos que não esgotam todas as questões.
A ciência não consegue resolver o medo, o aspeto existencial.
Aqui devem estar mais presentes a cultura e as religiões.
---
O que é que esta crise nos está a fazer entrever?
Que vemos avançar os novos modelos de amor.
Veja-se a fotografia da enfermeira que adormece, esgotada, sobre o teclado.
É o símbolo da generosidade num mundo tendencialmente egoísta.
Os médicos que arriscam os contágios são um outro exemplo de amor não retórico, mas concreto.
---
O vírus não olha ninguém no rosto…
É como se se estivesse a criar uma escala de valores melhor. Como quando se tem de enfrentar uma doença grave.
Mesmo que se tenha muito dinheiro e a possibilidade de ter tratamentos melhores, a escala de valores assume outra disposição.
Os afetos, por exemplo, como também a invocação a Deus por parte do não crente. Nem tudo se reconduz à concretização do egoísmo imediato.
Nestes dias há maior preocupação com os familiares, com o cônjuge. Há uma educação que é chamada a paideia da dor.
Saul Bellow repetia que o sofrimento, por vezes, serve para expulsar o sono da razão e o vazio da humanidade.
A banalidade superficial é colocada em crise, e as coisas essenciais tornam-se fundamentais.
---
O coronavírus está a esfarelar o tabu da morte?
E de que maneira. Está a fazer-nos compreender que não somos eternos. Somos morredoiros.
Na nossa sociedade, a ideia da morte tinha-se tornado a grande apátrida. Ninguém a queria.
Era até considerado pouco educado falar dela.
A este termo eram preferidos sinónimos, como falecimento, desaparecimento.
Não se podia, depois, fazê-la ver às crianças.
Por outro lado havia a pornografia da morte, isto é, o excesso de imagens que ciclicamente aparecem na internet.
O coronavírus reposicionou a ideia de morte como percurso natural da nossa vida.
Devemos fazer as contas.
---
Há fundamentalistas cristãos para quem o vírus é o castigo de Deus.
São conceções retributivas que estão na Bíblia.
Deus manda os flagelos porque pecámos.
Mas no cristianismo esta visão é totalmente superada.
Jesus não nos abandona na nossa morte, fica ao nosso lado.
Sempre.
Franca Giansoldati
In Cortile dei Gentili
Trad.: Rui Jorge Martins
Imagem: marketanovakova/Bigstock.com
Publicado em 23.03.2020
Que a quarentena não seja só um violento recurso forçado, do qual vemos apenas os aspetos negativos.
Este pode ser o momento para irmos ao encontro daquilo que perdemos; daquilo que deixamos sistematicamente por dizer;
daquele amor para o qual nunca encontramos nem voz nem vez; daquela gratuidade reprimida que podemos agora saborear e exercer
PODEMOS REAPRENDER TANTAS COISAS
Parece paradoxal, mas o tempo presente representa também uma oportunidade para nos reencontrarmos.
Confinados a um isolamento compreendemos talvez melhor o que significa ser — e ser de forma radical — uma comunidade.
A nossa vida não depende apenas de nós e das nossas escolhas: todos estamos nas mãos uns dos outros,
todos experimentamos como é vital esta interdependência, esta trama feita de reconhecimento e de dom,
de respeito e solidariedade, de autonomia e relação.
Todos esperam uns dos outros e estimulam-se positivamente a que façam a sua parte.
Todos contam. Os cuidados individuais, que somos chamados a exercitar,
não são a expressão de uma fobia ou do interesse próprio apenas, como se destinados
a nos enclausurar na torre de marfim do nosso ego.
São, sim, a forma de colaborar para uma construção maior,
de colocar os outros no centro, de sacrificar-se por eles,
de privilegiar o bem comum.
Esta é a hora em que podemos, de facto, reaprender tantas coisas.
Podemos reaprender a estar nas nossas casas,
mas também a sentir que depende de nós o nosso prédio, a nossa rua,
o nosso bairro, a nossa cidade, o nosso país, dando substância efetiva a palavras,
tantas vezes destituídas dela, como são as palavras proximidade, vizinhança, humanidade, povo e cidadania.
Podemos reaprender a utilizar as redes sociais não só como forma de divertimento e de evasão,
mas como canais de presença, de solicitude e de escuta.
Sem nos tocarmos, podemos reaprender o valor da saudação,
o estímulo de um cumprimento, a incrível força que recebemos de um sorriso ou de um olhar.
Sem que os nossos braços se estendam na direção uns dos outros podemo-nos abraçar afetuosamente,
como já o fazíamos ou de um modo mais intenso ainda,
transmitindo nesses abraços reinventados o encorajamento, a hospitalidade,
a certeza de que ninguém será deixado só.
Sem nos conhecermos podemos finalmente reaprender a não votar ninguém à indiferença
ou a não tratar os nossos semelhantes como desconhecidos.
Nenhum ser humano nos é desconhecido, pois sabemos por nós próprios o que é um ser humano:
o que é esse pulsar de medo e de desejo, essa mistura de
escassez e de prodigalidade,
esse mapa que cruza o pó da terra com o pó das estrelas.
A DISTÂNCIA E A PROXIMIDADE
Conhecemos a semântica da proximidade e da distância, e, para dizer a verdade, precisamos de ambas.
São elementos de comprovada importância na arquitetura do que somos: sem uma ou sem outra nós não seríamos.
Sem a proximidade primordial nem seríamos gerados. Mas também sem a separação e a distinção progressivas a nossa existência não teria lugar.
Na linguagem parabólica do livro do Génesis, Deus cria o homem amassando-o da argila da terra e oferecendo-lhe o seu próprio sopro,
mas depois deixa o casal humano a sós no jardim para que a aventura da liberdade possa ter início.
Do mesmo modo, cada um de nós, foi chamado a construir o seu mundo interno no balanço destas duas palavras: fusão e distinção.
E através delas descobrimos, a tatear, o significado do amor, da confiança, do cuidado, da criação e do desejo.
DE QUARENTENA A TEMPO GRATUITO
Passamos uma vida inteira a repetir que “time is money” e nem nos apercebemos do custo existencial dessa proposição.
Este pode ser o momento para irmos ao encontro daquilo que perdemos; daquilo que deixamos sistematicamente por dizer;
daquele amor para o qual nunca encontramos nem voz nem vez; daquela gratuidade reprimida que podemos agora saborear e exercer.
Temos de olhar para a quarentena não apenas como um adverso congelamento da vida que nos deixa manietados,
elencando de modo maníaco o que estamos a perder.
Sairemos mais amadurecidos se a aproveitarmos como um dom,
como um espaço plástico e aberto, como um tempo para ser.
AS HISTÓRIAS DE AMOR QUE ESTÃO A SER ESCRITAS
No meio da emergência que vivemos, não podemos esquecer o testemunho humano altíssimo que está a ser dado por todos os cuidadores.
Esses são heróis desta história coletiva. E são milhões que, de forma anónima, e com um extraordinário sentido de abnegação,
mantêm abertas fábricas e serviços, continuam a produção alimentar e de bens indispensáveis, vigilam pela segurança e, claro,
nos hospitais combatem por todos nós na primeiríssima linha.
Enumero três histórias minúsculas no universo de bem e dedicação que, nestes dias tão difíceis, se está também a construir.
No sábado fui à pequena padaria do meu bairro. É o proprietário que atende ao balcão, um senhor dos seus setenta e muitos,
um olhar cheio de cordialidade, um humor sempre a assomar. Vi-o, como o nunca vi, desolado, meditabundo, exausto.
Perguntei-lhe se a padaria continuaria aberta. E ele confessou que por ele já a teria fechado. Mas depois começa a pensar nos clientes,
nas pessoas que serve há tantos anos, muitas delas idosas como ele: como farão, se não há outra padaria nas redondezas! Outra história lia no jornal.
Uma senhora ligou para o posto da polícia do seu quarteirão, que naturalmente continua aberto, apenas para fazer esta pergunta:
“E vocês como estão?” A terceira é contada, sem palavras, por uma fotografia que mostra os bastidores de um hospital.
Uma enfermeira adormecida com a cabeça em cima de um teclado do computador. Tem os óculos e a máscara colocados no rosto.
Os braços caídos ao longo do corpo, sem nenhum apoio. É uma imagem comovedora, no seu desamparo extremo, porque se percebe tudo.
Há já quem diga que a geração que vive o turbilhão desta pandemia olhará inevitavelmente para a vida de outra maneira.
Esperemos que sim.
Mas que na equação, que porventura espoletará uma mudança de mentalidade, entre não só o poder desconhecido do medo e da urgência,
que nos faz relativizar tanta coisa.
Que saibamos considerar devidamente todas as histórias de amor que estão a ser escritas,
a começar por esta inteira multidão de profissionais e de voluntários que aproximam da nossa experiência hodierna a inesquecível parábola do bom samaritano.
AS MÃOS SUSTÊM A ALMA
Foi Pascal que escreveu que “as mãos sustêm a alma”.
Hoje precisamos de mãos — mãos religiosas e laicas — que sustenham a alma do mundo.
E que mostrem que a redescoberta do poder da esperança é primeira oração global do século XXI.
José TOLENTINO MENDONÇA, Redescobrir o Poder da Esperança, in Expresso.
A Revista do Expresso, 2473, 21. 03. 3020, 23-29.