FÉRIAS
- Publicado em sábado, 15 agosto 2020 16:42
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As férias ensinam a olhar, perguntar, pensar
Tempo de férias: tempo para olhar, ou melhor, para contemplar.
Sim, porque habitualmente olhamos as pessoas ou as coisas, mas não as vemos.
Não temos tempo para deter o olhar, habituado a responder ao estímulo de alguma coisa
que o atrai de maneira repentina: um semáforo, um placar publicitário…
Ou então olhamos aquilo que nos é dito para olhar: os nossos olhos são atraídos
por aquilo que foi pensado para nos seduzir,
para chamar a nossa atenção, para acender o nosso desejo.
Não é por acaso que, muitas vezes, constatamos «não vi, não me dei conta»,
só porque uma coisa não se impõe ao nosso olhar.
As férias são um tempo propício para exercitar o olhar:
sobre uma praia ter os olhos abertos para o céu;
deter-se a ver o mar que está sempre a mudar de cor e de forma;
ver como uma formiga transporta uma migalha de pão; observar como é feita uma flor…
É assim que se aprende a “ver com o coração”, como aconselhava o Principezinho.
Então, ao abrir os olhos do nosso coração, podemos dedicar-nos a contemplar,
a ver em grande, e, por isso, a sentir em grande.
Assim se começa a ver verdadeiramente aquilo que existe e vive ao nosso lado,
ainda que muitas vezes não nos apercebamos;
treinamo-nos a admirar e a acolher o inesperado,
o que é desconhecido e diferente daquilo que pensamos. (...)
É preciso, então, encontrar tempo para ficar a sós, no silêncio, e demorar-se nas perguntas que nos habitam.
Se nunca fizermos este “trabalho”, arriscamo-nos a viver à superfície, sem estarmos conscientes,
sem conseguir ler a nossa vida e a avaliá-la nas suas expetativas e nos seus fracassos.
Os latinos diziam que cada ser humano amadurecido deve conseguir “habitare secum”,
a habitar consigo, a escutar-se.
Não é uma operação narcisista,
mas um ato de verdade sobre si e sobre a relação com os outros.
É uma necessidade para agarrar a própria vida nas mãos com um mínimo de lucidez,
e assim aprender a amar-se a si e aos outros com inteligência e criatividade.
Nas férias, dêmos, por isso, tempo à reflexão, ao pensar.
E a quem nos pergunta «o que estás a fazer?», respondamos:
«Olho e penso».
Rara mas extraordinária resposta!"
Enzo Bianchi
Para consultar o texto na íntegra, aqui.